Entrou no bar numa fúria irredutível. Mal olhou para os lados; andou a passos determinados em direção a Juvenal, que tomava pinga no balcão. E deu-lhe uma trombada magnífica nas costas.
“Na subida do morro me contaram”, começou Amoroso, “que você bateu na minha nega. Isso não é direito, bater numa mulher que não é tua.”
Como bom canalha, Juvenal sorriu. Foi um sorriso impecável.
E Amoroso continuou, metendo-lhe a mão no peito:
“Hoje, vim resolvido a te mandar para a cidade de pés juntos.”
“Calma, meu querido”, argumentou Juvenal, sem mudar a pose. “A história não foi bem assim…”
Mas Amoroso logo o interrompeu:
“Você bem sabe”, disse, “que eu já fui malando. Somente estou regenerado. Dei bastante trabalho à polícia e, até, ao dono do morro.” Agarra o outro pelo colarinho da camisa e continua: “Mas nunca abusei de uma mulher que fosse de um amigo.”
Num gesto típico de pilantra, Juvenal colocou um palito de dentes no canto da boca – e inventou um pigarro. Deu um sorriso sem graça e balançou os ombros, como se fizesse pouco caso da raiva do outro.
“Me zanguei contigo”, disse Amoroso, sério.
E meteu um aço no abdômen de Juvenal.
Enquanto ia caindo, Juvenal disse, numa surpresa fatal:
“Você me feriu, Amoroso!”
Ao que Amoroso respondeu:
“Você me desrespeitou, mexeu com a minha nega.”
As garotas do bar ficaram desesperadas, histéricas, em pânico!
Uma delas implorou:
“Coitado desse homem, seu moço”, disse. “Se esvaindo em sangue!”
“Vocês não se afobem”, respondeu Amoroso, numa calma tremenda, “que o homem dessa vez não vai morrer. Se ele voltar, dou para valer.”
Acendeu um cigarro e virou-se. Antes de deixar o bar, porém, lembrou-se de pedir às meninas histéricas:
“Se o delegado aparecer”, disse, “vão se desculpando a ele por mim, ok?”
Tenho ouvido muito Moreira da Silva. Esse conto é inspirado na música “Na Subida do Morro“. Ontem mesmo, escrevi uma história baseada em “Conversa de Botequim“. Provavelmente, outros virão.